quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Piegas

Parece coisa simples demais para derrubar lágrimas, alguns até acham meio cômico. No fundo até tem lá sua graça, do sorriso da ingenuidade travestida em pecado. Mas é amargo na maior parte das vezes. Só se escuta o silêncio, só se olha para o nada, como se sempre faltasse alguma coisa, tornando impossível viver sem inquietações a inundar a cabeça. Pode parecer fácil pra quem tem a vantagem do desapego e da alma leviana. Mas é penoso para as almas mais piegas, mais humanas.

domingo, 27 de novembro de 2011

The last rock of 2011



- Quando: 17 de dezembro, às 22h
- Onde: Bar da Cássia (Radial C - Camaçari)
- Quanto: R$5
- Bandas: The Clan, declinium, Código em Sigilo, Jota Pop, Macabéa (SSA), Headfones (SSA)

sábado, 26 de novembro de 2011

Intimemos o papai noel

   Ok, ainda falta quase um mês para o natal, mas né, em meados de outubro as lojas já estão tomadas pelas decorações típicas da época, tudo muito vermelho e branco, cheio de neve feita de algodão e vendedores com chapéu de papai noel. Admito, esse clima natalino me encanta. 
   Tudo bem, tem toda aquela discussão sociológica, antropológica, filosófica, do consumismo, das relações levianas, abraços mentirosos, sorrisos amarelos, coisa e tal, concordo. Mas o natal lembra a minha infância de forma máxima, é nesse período que recordo da felicidade em enfeitar a árvore de natal, montar presépio, esperar papai noel, se vestir a caráter, colocar guirlanda, pisca pisca, e até mesmo ouvir aquelas chatíssimas músicas de Simone e Fábio Junior.
   Hoje em dia deixamos de lado essa mágica infantil natalina, mas aproveitamos pra pegar as fotos antigas da gaveta e lembrar desses anos distantes (tá, nem tão distantes assim no meu caso). Acompanhados, é claro, de muito panetone, champanhe e peru, tudo muito bom. 
   Mesmo sem presente de papai noel, é o natal a melhor data comemorativa do ano, ou então a menos pior, quem sabe. Sem aquela felicidade colorida e músicas repetitivas do carnaval, e muito menos o forró e a fumaça, que tanto me incomodam no São João.
   E por fim, o natal tem a vantagem de ser no finalzinho de dezembro, fim de ciclos, momento de despedidas e de recordar as boas graças do ano.
   Que intimemos o bom velhinho!

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Lusco-fusco


- Quando: 11 de dezembro, às 17h
- Onde: Restaurante Casa de Taipa (Radial B - Camaçari)
- Quanto: R$10
- Bandas: Ladrões Engravatados, The Pivo's, The Honkers (SSA), Velotroz (SSA)

- E mais: Intervenções visuais com o VJ Daniac + sorteio de R$500 em bônus para tatuagem e quatro piercings

domingo, 20 de novembro de 2011

Sem maquiagem, desajeitada e fala pouco

   Em meio aquele silêncio mórbido ouvi uma zoada, me lembro, um som rouco, batidas repetitivas, na verdade era só um 'toc toc' (som de alguém batendo na porta, segundo os quadrinhos), mas soava como uma risada maquiavélica, um som conturbador, daqueles de filmes de terror. E por soar tão intimidador assim, foi o medo que tomou conta de mim, daqueles tipos de medo que não encaramos, só apertamos uma mão contra outra, como se isso fosse resolver alguma coisa.
   Mas as batidas constantes me inquietaram, resolvi levantar da cama, calçar a havaianas e, arrastando o pé, ir até a janela olhar o que estaria causando aquele ruído. Era um ser meio torto, sandália de couro, magricelo, sorriso amarelo. Era a felicidade.
  A felicidade não é tão colorida como imaginamos, é em tons cinza e marrons, silenciosa, tímida, discreta, delicada, as vezes nem nos damos conta de que ela está ali. Os vaidosos se assustam: então é isso a felicidade? E riem esnobes. Os mais humildes a abraçam, recebem-na com maestria, oferecem uma xícara de café, as vezes até um pedaço de bolo. 
   A felicidade nem sempre leva sorriso no rosto, por vezes até chora, se entristece, se aborrece, fica confusa. Fala pouco, quase não se escuta, só conseguem ouvi-la quem se permite parar um pouco, sair da agitação, ir pra um canto mais calmo, tranquilo e sereno. Não faz alarde, não se veste extravagante. O pouco que fala, pronuncia com cuidado, como se estivesse com medo das palavras caírem, saírem bambas, e nesse ritmo 'tartaruguesco', diz assim: se quiseres chorar, chores, não plantes um rosto simpático sempre, pois desse jeito não alegras os outros, muito menos a si mesmo.
   Ela é sábia, disso eu já desconfiava, mas nem de tudo sabe fazer, não desenha com tanta perfeição, não é tão afinada assim, não sabe tocar violão, suas receitas as vezes passam do ponto, sua dança é meio esquisita, sua aparência não é de modelo - mas nem por isso usa maquiagem. 
   Quando eu a vi da janela estranhei aquela presença desajeitada, mas abri a porta, deixe-a entrar, fiz um suco, te dei biscoitos, mas ela recusou, tirou da bolsa uma garrafa de vinho barato, tomou um pouco, se deitou no sofá, e começou a ri, sem nenhum motivo aparente. E continua a gargalhar, até agora não sei o porquê, mas prefiro não perguntar, e lá precisa de motivos pra sorrir?

Música em Ação contra a pedofilia



- Quando: 02 de dezembro, às 20h
- Onde: Mega Star (Praça dos 46 - Camaçari)
- Quanto: R$10
- Bandas: Edy Vox, Ladrões Engravatados, Irmandade Roots, Gruta Sound System


Realização: Cabeçativa Produções

domingo, 13 de novembro de 2011

Um novo Almodóvar

Me lembro da primeira vez que li sobre o 'novo filme de Almodóvar': o diretor espanhol iria lançar seu primeiro filme de suspense. Pronto, de imediato me transformei em um mix de felicidade, histeria e expectativa. Toda nova notícia sobre o tal La Piel que Hábito era acompanhada por mim: a premiação em Cannes, o lançamento mundo a fora, e, finalmente, o lançamento no Brasil. Eis que então, depois de alguns dias de espera após a estréia do filme, estou eu lá, na sala de cinema, parecendo criança abrindo o presente no dia de natal. 

Agora um aviso: daqui em diante, esse post contém spoiler, quem tiver alergia, por favor, parar por aqui.

Uma mulher usada como cobaia por um cirurgião plástico obcecado em produzir uma pele muito mais resistente do que a humana, obsessão essa, motivada por uma tragédia do passado: sua mulher cometeu suicídio, numa atitude de desespero, após ver, espelhada numa vidraça da janela, sua imagem desfigurada, resultado de um incêndio quase fatal. Não bastante a morte da esposa, Robert, o cirurgião, passa a cuidar da filha Norma, que, abalada pelo acontecimento trágico, fica perturbada mentalmente, tendo que usar medicamentos psiquiátricos. Mas é um evento fatídico que faz Norma se afundar totalmente na loucura e enxergar no pai uma figura intimidadora e repulsiva, loucura essa que a leva a morte.
É sobre a ligação entre todos esses acontecimentos trágicos e Vera, a paciente que fica trancafiada na mansão do doutor e é usada como cobaia, que A Pele que Habito discorre. E tudo é feito com muita eficiência, através de um roteiro não-linear, que sempre recorre aos flashbacks, tanto para explicar os acontecimentos, quanto pra criar mais apreensão. É a nova cara de Almodóvar, que larga mão das cores exuberantes e constrói uma ambientação fria, que não é narrador de um personagem, mas sim de uma história.
Talvez uma história previsível, mas totalmente inacreditável, complexa e inquietante, contada de uma forma espetacular. Não é o suspense que arranca gritos e sustos, é pela sucessão dos fatos, pela construção da cena e da utilização dos diálogos que Almodóvar nos faz ficarem fissurados e apreensivos. Tudo isso completado pela belíssima trilha sonora e pelo leve e acertado toque do humor.



terça-feira, 8 de novembro de 2011

Cinza

O tempo lá fora é cinza,
Mas a chuva ainda não veio
Eu me aqueço, me esqueço
Com um dose de bebida
Mas não de você.
Trancada em um mundo tão meu
Mergulho em declinium
Que não sai mais de mim
Como um doce que me transporta
Pra um lugar qualquer.

Onde eu consigo enxergar 
Seus olhos

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Quando o mundo inteiro fica cinza

   É como numa segunda-feira chuvosa só ter a si mesmo para abraçar, e ver o vento deixar o sabor amargo de solidão sob o nosso corpo desprotegido. Mas não foi uma segunda-feira chuvosa, nem ensolarada, nem outro dia fatídico, foram tempos difíceis, que pareciam intermináveis, carregados nas costas.
   Como aquela velha brincadeira do efeito dominó, cada peça enfileirada, e que, ao derrubarmos uma, acabamos por causar um efeito sucessivo que resulta num desmoronamento quase instantânio, tudo está no chão, tudo foi a baixo. Um efeito gradativo e harmônico.
   Mas não é harmônica a tristeza que nesses dias se estendem, é distonante, desritimada, contudo, constante. Mistuando-se a saudades, angústias, dúvidas, desesperos e inquetudes, tornaram-se bixo papão, que atormenta por longas noites, não em cima do telhado, mas na alma, coisa pior.
   Talvez seja uma luxúria querer entender o mundo, ou mais do que isso, controlar a vida, como se tudo isso fosse um jogo de tabuleiros e o lance da vez estivesse em nossas mãos.
   E é nessa sensação de impotência que se desmoronam as lágrimas mais doidas, todo dia se transforma em segundas chuvosas, em domingos solitários, em terças depressivas, todo dia nos refugiamos em decadência e nos perdemos de nós mesmo.