segunda-feira, 7 de novembro de 2016

O fim e o depois

Esse texto começa sem direção e intensão. Porque as vezes tenho vontade de escrever como uma prosa descompromissada, que começa sem saber como vai terminar. Coisa que não tem acontecido muito com meus textos, já que ultimamente só tenho me dedicado aos jornalísticos.
Esse texto veio pela minha vontade de falar sobre minha incompreensão do fim. Pode ser que isso seja com todo mundo. Mas parece que minha cabeça tem dificuldade de entender o término, em muitos sentidos. É como se tornasse tudo vazio.
Quando minha mãe foi fazer sua terceira cirurgia do coração, antes da internação, ela falava corriqueiramente na morte e sua preocupação com a gente. Eu dizia pra ela parar de falar isso porque isso não ia acontecer. Mesmo sabendo de seu estado debilitado há tempos. Tudo tinha que ter uma solução.
Enquanto todos se preocupavam dia após dia depois da cirurgia, eu ficava angustiada, mas sabia que tudo ia ficar bem. E quando no dia fatídico meu pai me ligou pra dizer que tiveram mais complicações e ela não aguentaria o tempo sem os aparelhos entre a UTI e o centro cirúrgico para fazer uma nova operação, eu perguntei: "Sim, e agora, vai fazer o que?". Porque tinha que ter uma solução. Não deu certo desse jeito, mas tinha de ter uma forma de dar certo.
Eu sai do estágio e fui para Salvador e durante todo o caminho, por mais que eu tenha chorado, tinha a certeza que eu iria chegar lá e ia ter uma solução. Eu a vi entrando duas vezes para cirurgias de coração e ela sempre voltou e tudo sempre ficou bem. Havia de ter uma saída. Até mesmo quando eu subia o elevador do hospital eu acreditava que haveria uma solução. E tudo isso só findou quando eu olhei o medidor de batimentos cardíacos e o som não tinha mais pausas. Só ali vi que não existia a tal solução.
Essa minha incredulidade com os fins se repetem muitas vezes. Haveria sempre um jeito de continuar. Principalmente referente aos ausências, seja pela morte ou outro motivo.
Tem fins que não são marcados por medidores de batimentos. A gente sente aos poucos o aumentar da distância. Pra mim, custa senti-los. O que será agora? "Sim, e agora, vai fazer o que?". Mas nem sempre há o que se fazer. As vezes as histórias viram estrela. As vezes o que resta é deitar, lembrar, sorrir, chorar.

("Ficaram as memórias / histórias pra contar // resquícios de sorrisos / planos por terminar / e o que sobrou de mim perdido em algum lugar")