quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Sobre maternidade e patriarcalismo

Nós nos posicionamos diariamente pelo empoderamento feminino, mas sabemos o quanto a desigualdade de gênero ainda é radicalmente presente em nossa sociedade. O machismo é diário, seja nos julgamentos e comentário torpes , assédios naturalizados, cultura do estupro, feminicídio, etc etc etc. Lista infindável do que temos que enfrentar.
Mesmo sabendo que temos uma sociedade tão patriarcal, uma coisa (infelizmente) corriqueira me chocou dia desses. Discutimos sempre a imposição e romantização da maternidade, falamos sempre sobre o abandono paterno. Mas as vezes coisas corriqueiras nos chocam quando vemos assim de perto, e quando não conseguimos falar ou fazer nada para mudar alguma coisinha na situação.
Estava com um casal, pais de uma criança que tinha cerca de um ano e meio. A mãe dava comida sempre, dava banho  todas as vezes, trocava a fralda, vestia, penteava os cabelos, acalentava de madrugada (ou durante o dia). O pai assistia de longe, brincava um pouco, só. Em outra situação, esse pai passou vários dias em outra cidade a lazer, enquanto a mãe tinha que trabalhar e cuidar da criança.
Não sei da vida de ninguém e talvez não deva fazer julgamento. Mas foi inevitável: me indignei. E me indignei como isso foi naturalizado pelas outras pessoas que estavam presentes. Tudo parecia muito comum, porque, como já disse, isso é corriqueiro.
Comecei a lembrar das pessoas próximas, amigos(as) ou colegas que têm filhos, e percebi o quanto muitos pais se posicionam da mesma maneira, ou até de forma pior, ou quando agem melhor ganham carteirinha de super-pais. É um padrão quase unânime: para as mães cabe as obrigações e o peso da maternidade. Ao não assumir esse papel (papel esse que é de abrir mão de sua própria vida), a mulher é chamada de irresponsável ou coisa pior. Aos pais, os mais presentes são parabenizados, valorizados. A displicência é perdoada, despercebida. O abandono é pouco julgado.
É necessário quebrar esse paradigma. Compartilhamento das obrigações é imprescindível. Responsabilidade é igual para ambos, o  filho é dos dois. Os mais próximos sabem o quanto sonho em ser mãe. Mas isso não deve ser um fardo, e não deixarei que seja. Tampouco uma tarefa unilateral. Da próxima vez não deverei ficar calada. Vamos empoderar nossas irmãs. Vamos enfrentar e resistir porque, como diz a música, somos flortaleza.

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