Bahia, terra do dendê, axé, carnaval e rebolation. Essa é a imagem baiana tão divulgada e difundida, uma Bahia pintada por não-baianos, uma Bahia feita pra vender, para exportar, para estampar as capas de revistas e estrelar programas de auditório. Produzida, enfeitada, fingida, forjada, uma cultura limitada a clichês e estereótipos.
Considerada a maior festa popular do planeta, no carnaval, as ruas de Salvador são tomadas por turistas e por soteropolitanos, por aqueles que se dispõe a pagar mais de dois salários mínimos por um abadá, dividido em até doze prestações. O que seria um momento de celebração coletiva é na verdade um espaço construído e estrategicamente projetado, onde a alegria custa caro, onde não há democratização de acesso, um lugar feito para segregar grupos e fomentar barreiras sociais.
Mas os clichês baianos não se limitam ao período carnavalesco, após a poeira baixar e os oito dias correrem - regado a toques de violência - a Bahia continua respirando o cheiro acre do padrão festivo, continua sendo guiado pelo ritmo motriz do estado, o axé (ou pior: o pagode), vangloriado por mídia e holofotes.
O que na verdade possuímos é uma cultura limitada, restrita, fechada, vivemos encurralados por um único cenário, por uma única opção, e pra remar contra essa maré é preciso, sobretudo, de muita coragem. Presenciamos um cenário alternativo inibido, esmagado, afogado numa realidade infeliz. Ousar pronunciar-se contra o carnaval, contra o axé, contra a idéia de cultura baiana, é dar a cara a tapa pra ser chamado de rebelde.
Num estado que já fora consagrado pela sua disposição em inovar, é lamentável presenciarmos essa cultura medíocre, onde qualquer um que subir no palco e repetir três palavras aleatórias é considerado rei musical, ídolo popular, artista competente, exemplo a seguir. Vamos exaltar a exigüidade, vamos usar máscaras e fantasiar que somos dotados de muita intelectualidade e de uma cultura democrática!