domingo, 27 de fevereiro de 2011

A Bahia e seus clichês

   Bahia, terra do dendê, axé, carnaval e rebolation. Essa é a imagem baiana tão divulgada e difundida, uma Bahia pintada por não-baianos, uma Bahia feita pra vender, para exportar, para estampar as capas de revistas e estrelar programas de auditório. Produzida, enfeitada, fingida, forjada, uma cultura limitada a clichês e estereótipos.
   Considerada a maior festa popular do planeta, no carnaval, as ruas de Salvador são tomadas por turistas e por soteropolitanos, por aqueles que se dispõe a pagar mais de dois salários mínimos por um abadá, dividido em até doze prestações. O que seria um momento de celebração coletiva é na verdade um espaço construído e estrategicamente projetado, onde a alegria custa caro, onde não há democratização de acesso, um lugar feito para segregar grupos e fomentar barreiras sociais.
   Mas os clichês baianos não se limitam ao período carnavalesco, após a poeira baixar e os oito dias correrem - regado a toques de violência - a Bahia continua respirando o cheiro acre do padrão festivo, continua sendo guiado pelo ritmo motriz do estado, o axé (ou pior: o pagode), vangloriado por mídia e holofotes.
   O que na verdade possuímos é uma cultura limitada, restrita, fechada, vivemos encurralados por um único cenário, por uma única opção, e pra remar contra essa maré é preciso, sobretudo, de muita coragem. Presenciamos um cenário alternativo inibido, esmagado, afogado numa realidade infeliz. Ousar pronunciar-se contra o carnaval, contra o axé, contra a idéia de cultura baiana, é dar a cara a tapa pra ser chamado de rebelde.
   Num estado que já fora consagrado pela sua disposição em inovar, é lamentável presenciarmos essa cultura medíocre, onde qualquer um que subir no palco e repetir três palavras aleatórias é considerado rei musical, ídolo popular, artista competente, exemplo a seguir. Vamos exaltar a exigüidade, vamos usar máscaras e fantasiar que somos dotados de muita intelectualidade e de uma cultura democrática!

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Carta

Senta aqui
E ouve o vento passar
Sentir o mar te levar pra longe daqui.
Esquece esses planos
E vem para a alma voar
Que já é tarde pra se preocupar
E temos um amor pra brindar agora.
Fica aqui
Não liga pra o que andam dizendo
Só fingem sorrisos pequenos
Olha lá, riem de seu sofrimento.


Vem comigo
Que não é mais tempo de sofrer.


Senta aqui
Vou pedi um chopp pra nós dois
Que a rotina pode ficar pra depois
E a saudade já está pra acabar.
Fica aqui
Se desliga do mundo inteiro
Agora é o nosso recreio
Vamos sentir o doce da vida.
Vem pra mim
Eu sei, vai ser o melhor a fazer
O que interessa é só eu e você
Entregar um pouco de nós
De resto só resta esquecer

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

3X4

   Dona Cláudia Magnólica postou em seu blog dia desses um post  com um certo questionário retirado da revista Contigo! de uma dessas revistas que se encontram em salão de beleza. E como eu adoro responder questionários ela quase implorou no fim do post para que façamos o mesmo (Pedido: Façam nos seus blogs tb, sejam solidárias, queridas pessoas... não cometam a maldade de me deixar pagar mico sozinha....oh dó...), vou prestar essa solidariedade e responder ao tal 3x4. Então vamos lá:


Nome: Emile Priscila Souza de Lira


Idade: 18 anos 

Local de nascimento: Salvador

Peso: então... qual a próxima pergunta?

Altura: tá bom, pulo essa também.

Apelido: Pri, Pekii, Mile, Mi, Emi, mais algum? 

Qual é sua maior qualidade? bom gosto, há!

E seu maior defeito? aparentar indiferença

Quais são as características mais importantes em um homem? inteligência, bom gosto, sensibilidade, companheirismo

E em uma mulher? idem

O que você mais aprecia em seus amigos? companheirismo

Sua atividade favorita é: ouvir música

Qual é a sua idéia de felicidade? algo que vivemos através de pequenos momentos em nossa vida

E o que seria a maior das tragédias? se um dia perceber que nada que eu construí deu certo

Quem você gostaria de ser se não fosse você mesma? não faço idéia

Quais são suas viagens preferidas? Recife (1999 e 2011) e Jequiriçá

Qual é sua cor favorita? marrom

Uma flor: não conheço muito esse negócio de flor não

Um animal: cachorro (são fofos)

E seu prato favorito? churrasco

Quais são seus autores preferidos? Mário Quintana, Artur Conan Doyle, Luis Fernando Veríssimo

E seus cantores? vale banda? Moptop, Tuninho Arnaldo Antunes, Los Hermanos, Strokes

E seus filmes? Má Educação, Volver, Amelie Poulain, Laranja Mecânica

Que superpoder gostaria de ter? poder ver o que algumas pessoas estão fazendo, como se elas estivessem num reality show rs

O que você mais detesta? eu mesma

Se pudesse viajar no tempo, para onde iria? acho que continuaria aqui mesmo, cara

Como você gostaria de morrer? não sei, de uma forma pouco dolorosa e depois dos 100 anos

Qual é seu atual estado de espírito? encarando o mundo de forma leve

Que defeito é mais fácil de perdoar? medo e timidez (quando se torna  defeito)

Qual é o lema de sua vida? ainda não descobri

Momento preferido do dia: quando estou com quem eu gosto

Uma mania: fechar as janelas e porta que dão para o fundo da casa após as 17h

Gasta muito com: revistas e guloseimas

Um sonho de consumo não realizado: D300

Lembranças de infância: Curumim, Terra Mirim, caminhadas fantasiada de Emília rs

O primeiro beijo: irrelevante

A primeira vez no sexo: como disse Meg, só depois do casamento rs

Uma vaidade: pernas lisinhas rs

Qual é o seu maior pecado? pecado não existe

Do que você não gosta no seu corpo? atualmente a barriga

O que você faria com um prêmio de milhões de reais? tanta coisa menine!

Qual foi a maior tristeza da sua vida? prefiro não relembrar

Defina-se em uma palavra: indefinível

Pedido: eu sei que essa postagem não foi das melhores, mas não desistam, continuem lendo meu blog. E não percam a esperança, um dia ele fica bom de verdade :B



sábado, 19 de fevereiro de 2011

A vida combina mesmo com liberdade

   Hoje eu acordei meio incomum, foi uma força me encorajando a viver certas inconstâncias. Deu vontade de sentir todos os cheiros suaves do mundo, de consagrar todos os desejos mais íntimos. Quero ouvir músicas tranqüilas, como o som que dança agora em meus ouvidos. É uma vontade incoerente, quero assistir um filme de Godard e tomar cappuccino gelado com pão de queijo. Quero bebericar uma dose de vodka com limão, quero deitar e sentir o mar balançar minha alma. 
   Ler um novo romance, escrever coisas mais suaves. Porque agora eu percebi, percebi que o tempo não é tão infinito como parece, que o prazo de validade que limita o ser espreme a quantidade de sorrisos e momentos em transe. Eu decidi: viver! Eu concluí, deixar se permitir, deixar que o vento leve. É algo novo, definitivamente, acho que é um grande momento novo, composto por pequenas metamorfoses, lentas, impercebíveis, até você acordar num sábado comum e se dá conta de tudo isso.
   Não se esconder em morais sociais, em censuras internas, em prisão. A vida combina mesmo com liberdade, desprendimento. Vamos saboreá-la, vamos degustá-la, deixar o paladar perceber o tempero, o doce... O amargo. É amarga a existência, mas mais amarga é a inexistência, a inexistência de expressão, de calor, de vivacidade, o nulo é extremamente acre, insosso.
   Vamos brindar os pequenos prazeres, vamos saudar a simplicidade do existir. 

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Quando as luzes se apagam

Quando as luzes se apagam
É fácil de imaginar
Está num lugar perdido
Onde não há e nem está.
Quando as luzes se apagam
Eu consigo enxergar,
Apaga o medo do mundo
Consigo fugir de mim.


Onde não há luz
Eu posso ver além


Muito mais que os olhos
Possam enxergar.
Onde não há luz
Não é sem graça como o mundo lá fora
De onde não se pode
Mais voltar

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Pedágio na Via Parafuso

   Este fato peculiar merecia, na verdade, um post extenso, de muitas, muitas linhas, discorrendo sobre toda essa revolta que brotou nos camaçarienses; os quais foram cercados e encurralados por uma artimanha governamental questionável. Todavia, eu acredito que a indignação não precisa de muitas explicações e justificativas, tem como principal característica o óbvio sentimento de abandono e traição.  

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Grito Rock'11 Camaçari


- Quando: 26 de fevereiro, às 16h
- Onde: Praça Desembargador Montenegro (Centro - Camaçari)
- Quanto: Free
- Bandas: Ultrasônica, The Pivo's, Pastel de Miolos (Lauro de Freitas)Quarteto de Cinco (SSA), Acord (SSA)Camarones Orquestra Guitarrística (RN), Black Flash Licorice (PE)Canastra (RJ)Na Sala do Sino (RJ)Color TV (SP) 


Realização: Capivara Coletivo Cultural + Coletivo Fora do Eixo + Secretaria de Cultura de Camaçari

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Quase

   Ainda pior que a convicção do não e a incerteza do talvez é a desilusão de um quase. É o quase que me incomoda, que me entristece, que me mata trazendo tudo que poderia ter sido e não foi.
   Quem quase ganhou ainda joga, quem quase passou ainda estuda, quem quase morreu está vivo, quem quase amou não amou.
   Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos, nas chances que se perderam por medo, nas idéias que nunca sairão do papel por essa maldita mania de viver no outono.
   Pergunto-me, às vezes, o que nos leva a escolher uma vida morna; ou melhor, não me pergunto, contesto. A resposta eu sei de cor, está estampada na distância e frieza dos sorrisos, na frouxidão dos abraços, na indiferença dos "Bom dia", quase que sussurrados. Sobra covardia e falta coragem até pra ser feliz.
   A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo trai. Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria e a dor, sentir o nada, mas não são. Se a virtude estivesse mesmo no meio termo, o mar não teria ondas, os dias seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza. O nada não ilumina, não inspira, não aflige nem acalma, apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si.
   Não é que a fé mova montanhas, nem que todas as estrelas estejam ao alcance, para as coisas que não podem ser mudadas resta-nos somente paciência, porém, preferir a derrota prévia à dúvida da vitória é desperdiçar a oportunidade de merecer.
   Pros erros há perdão; pros fracassos, chance; pros amores impossíveis, tempo.
   De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma. Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance. 
   Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar.
   Desconfie do destino e acredite em você. Gaste mais horas realizando que sonhando, fazendo que planejando, vivendo que esperando, porque embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu.

Texto de Luis Fernando Veríssimo

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Pequena Abelha

   Queria aproveitar minhas férias de forma produtiva, e por isso estava procurando um livro para comprar. Foi na Saraiva, o vi na prateleira, de capa laranja e preta, seu nome era Pequena Abelha. 'Vamos então ver a sinopse': 'Não queremos lhe contar o que acontece neste livro. É realmente uma história especial, e não queremos estragá-la. Ainda assim, você precisa saber algo para se interessar, por isso vamos dizer apenas o seguinte: Esta é a história de duas mulheres cujas vidas se chocam num dia fatídico. Então, uma delas precisa tomar uma decisão terrível, daquelas que, esperamos, você nunca tenha de enfrentar. Dois anos mais tarde, ela se reencontram. E tudo começa... Depois de ler este livro, você vai querer comentá-lo com seus amigos. Quando o fizer, por favor, não lhes diga o que acontece. O encanto está sobretudo na maneira como esta narrativa se desenrola'. Foi tudo o que eu precisava ler para despertar meu interesse em compra-lo.
   Tenho que confessar: o autor estava coberto de razão quando disse que 'você vai querer comentá-lo com seus amigo'. Pequena Abelha é uma deliciosa leitura, o que mais vai se querer fazer quando findá-lo é gritar aos quatro cantos o quanto essas 207 páginas são saborosas. 'Quando o fizer, por favor, não lhes diga o que acontece', tudo bem Sr.Chris Cleave, não vou revelar o desenrolar dessa história, mas tenho que anunciar sua grandeza.
   Depois da leitura d'O Cão dos Baskerville' (já comentada neste post), mergulho agora numa nova modalidade, um livro inundado de drama. Adianto-lhes em contar (não sei se faço bem) que é uma história triste, mas não é uma história triste qualquer, sobretudo porque, apesar de toda tragédia, Pequena Abelha continua com um ar leve, não é um livro 'pesado', sua leitura se desenvolve tranqüila. Isso se deve, principalmente, pela linguagem empregada, uma linguagem desprendida, poética e encantadora...
   Recomendo: entre um gole e outro de um chá, leia Pequena Abelha e transporte-se para a civilização inglesa. Respire e sinta o cheiro suave do narrar inocente dessa garota de 16 anos que - agora - sabe falar a língua da rainha. Sorria com um menininho que usa sempre roupa de Batman e fantasia derrotar os bandidos. Descobrirá que, talvez, os piores bandidos, inimigos mortais, morem mesmo dentro de nós.
   
   Finalizo citando alguns trechos por mim sublinhados do livro, que provavelmente despertará em vocês vontade em devorá-lo:
   'Temos de ver todas as cicatrizes como algo belo. Combinado? Este vai ser nosso segredo. Porque, acredite em mim, uma cicatriz não se forma num morto. Uma cicatriz significa: eu sobrevivi'; 
   'Palavras tristes são apenas uma outra forma de beleza. Uma história triste quer dizer: essa contadora de história está viva';
   'A morte, claro, é um refúgio. É para onde você vai quando um nome novo ou uma máscara e uma capa não conseguem mais escondê-lo de si mesmo. É para onde você corre quando nenhum dos principados da sua consciência lhe concede asilo';
   'Nossas histórias é que são as contadoras de nós';
   'De meu país vocês tiraram o futuro e para meu país vocês mandaram os objetos do seu passado';
   'Vocês vivem num mundo de máquinas e sonham com o que tem carne e osso. Nós sonhamos com máquinas porque vemos o que os que têm carne e osso fazem conosco';
   'Se você não pode ler as coisas bonitas que aconteceram na vida de alguém, por que se importaria com suas tristezas?'.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Sobre a tristeza

   Antes, nas minhas músicas, eu falava sobre problemas sociais ou sobre o amor. Hoje eu só falo de sofrimentos internos, daqueles que queimam nosso coração mas não ecoam para fora, aquela saudade dolorosa, decepção, perca ou monotonia mordaz. Muitos julgam ser puro egoísmo meu não falar mais sobre política, guerra ou páginas policiais, mas eu não acho. Penso que os pequenos sofrimentos são os que fazem esses grandes serem tão grandes assim; são esses pequeninos - mais pessoais sofrimentos - os mais cruéis, ele nos desfaz - em vez de com um tiro - com uma lenta decapitação da esperança. A tristeza arde mais do que ferida de machucado.
   Acho que tristeza foi feita mesmo pra se escrever música bonita, e não pra que a gente colocasse no coração. Mas os homens têm essa mania de impulsivamente colocar essas coisas dentro de nós, mas achar mesmo eu não acho, não acho que a tristeza é pra morar conosco. Tristeza é pra ser colocada em melodias calmas, pra fazer a gente procurar a letra da música e ao ler pensar 'mas que coisas mais bonita!', a gente até esquece que é triste, pela beleza que ela sôa, que se encaixa nas rimas complexas. É o que eu penso.
   Quem disse que é tão indispensável assim só falar de malfeitores sociais? Por que não posso fazer que ao menos minha música tenha o único engajamento de esvaziar meu coração de lágrimas e transformar meu pranto em três acordes mal feitos?