terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Curto e grosso: Sobre Fale Com Ela e Capitães de Areia

   Quem costuma brilhar nos filmes de Almodovar são as mulheres. Em Fale Com Ela, obra lançada em 2002, as damas são indispensáveis na sustentação da trama, mas são os homens que se destacam, sendo estes o enfermeiro Benigno e o escritor Marco. Os dois se conhecem num hospital,  onde ambos assumem a tarefa de cuidar de suas amadas que se encontram em coma. Porém, enquanto o coma de Lydia, uma toureira cuja personalidade oscila entre frágil ao bem decidida, é uma situação extremamente confusa para Marco, Benigno alimenta por Alicia, mesmo com ela em estado vegetativo, uma relação extremamente afetuosa, chegando até mesmo ao doentio. Fale Com Ela é a típica película almodovariana: personagens fortes, flash back, linda fotografia, ótimas atuações, roteiro bem desenvolvido e história interessante. Pode se destacar ainda a trilha sonora, que conta com uma canção lindamente interpretada por Caetano Veloso.

   Cecília Amado, ao adaptar a obra do avô, Capitães de Areia, criou um filme que divide-se entre o belo e o inconsistente. Pedro Bala representa a figura do líder, um garoto que comanda o bando dos meninos de rua, formado também por Gato, Grande, Pirulito, Boa Vida, Volta Seca, Professor e Sem Pernas, famosos pelos pequenos delitos que cometem. Mas com a chegada de Dora ao trapiche, menina órfã que se vê obrigada a morar na rua e cuidar do irmão caçula, o enredo parece assumir outro rumo, fazendo com que as histórias dos Capitães percam força para o romance entre a menina e Pedro Bala. A película encanta pela direção de arte, que ambienta a trama a meados do século XX com competência, pela fotografia exuberante e pela encantadora trilha sonora assinada por Carlinhos Brown e que conta ainda com canção de Arnaldo Antunes. Mas Capitães de Areia erra pelo roteiro mal construído, que acaba por deixar as histórias soltas e mal desenvolvidas.

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Almodovar

Entre as cores
Não há temores
É lugar do riso escancarado
Do amor desmedido
Do sangue derramado
Da lágrima caída
Entre as cores
Há espaço para o desespero
Homens de salto alto
Mulheres de batom vermelho
Entre os dedos
Escorrem os segredos
Dissabores não apagam paixões
Sorrisos estão presos em lágrimas
Entre as cores
De arma em punho
E sem destino

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Das declarações à redenção

   Quando Marcelo Camelo resolveu seguir carreira solo, não foram poucas as críticas, baseadas, sobretudo, no argumento 'Los Hermanos era melhor'. Não é que eu discorde, mas, como já disse por aqui, esse é o tipo de comparação que dispenso, principalmente porque Camelo trouxe uma nova proposta, que, mesmo influenciada pelo quarteto (o que é inevitável), tem uma identidade particular. Mas não entenderam isso quando ele lançou o 'Sou'.
   'Toque Dela' (2011) talvez tenha vindo como 'a redenção'. 'Pulsante e ensolarado' foram as palavras usadas pelo próprio artista para descrever o novo album, que não dispensa o sentimentalismo e intimismo que Marcelo já havia impresso no primeiro disco, mas que veio com muito mais coesão e consistência. Essa mudança já pode ser percebida pela estética, com cores vivas e tom festivo, contrapondo-se aos tons pastéis e sóbrio do 'Sou'.
   Das dez faixas, destaque a Ô, ô, Acostumar, Vermelho, Pretinha e A Noite, que mergulham num tom de alegria e romantismo. Sim, Toque Dela é puro romance e feito 'pra ela', é uma obra inspirada na amada, Mallu Magalhães.
   
   E se a inspiração 'dela' fez bem pra Camelo, a influência do hermano, aliada ao amadurecimento inerente, fez bem mais ainda pra Mallu, e de forma até mais visível. 
   Os seus dois CD's homônimos, o primeiro lançado em 2008 e o segundo em 2009, foram os que projetaram a jovem no mundo da música, mas, pela pouca idade, era notório, Mallu ainda precisava 'se encontrar'. Apesar de ter se tornado conhecida, as músicas em inglês mais eram alvos de críticas do que elogios.
   E foi com Pitanga (2011) que a garota mostrou que, sim, sabe fazer música, e de muita qualidade. A identidade dela está ali, mas muito mais amadurecida e primorosa. Além de bem arranjado, Pitanga vem com letras mais trabalhadas (e majoritariamente em português) e com um vocal mais seguro. 
   São com 12 faixas que Mallu Magalhães conseguiu arrancar elogios. E Olha Só Moreno, Sambinha Bom, Ô Ana e Cais são as provas de que a influência de Camelo só fez bem a moça. Como tantos dizem por aí, Pitanga veio pra mostrar que 'a menina virou mulher'. 

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Desafio musical

   Não sei quem lançou, não conheço ninguém que siga, e não sei o objetivo, mas o fato é que vi dia desses no Facebook um Desafio Musical, onde, durante 250 dias (sim, 250), você deveria postar uma música, sendo que cada dia correspondia a um 'tema'. Se no meme de filmes, que só era 31 dias, eu fiquei com preguiça e postei todos os 31 filmes em um dia só, imagina minha disposição em responder esse desafio. Pois é. 
   Mas não bastante a preguiça de postar uma música por dia, também deu preguiça de responder 250 itens. Por isso respondo aqui neste post somente os itens que curti mais, e os interessados em saber do desafio todo procura lá no link de origem. Então vamos lá:


1 - Uma música que te traga memórias boas: Rehab - Amy Winehouse 
2 - Uma  música que você saiba a letra toda: Atirei o Pau no Gato
3 - Uma música de sua banda preferida: Fenix - declinium
4 - Uma música que você quer apresentar as pessoas: Lugar Qualquer (Morte) - nadadenovo
5 - Uma música que você curta e seus amigos também: Último Romance - Los Hermanos
6 - Uma música que você está ouvindo agora: Mal Cuidado - Moptop
7 - Uma música para aliviar a raiva: Sugar - System of a Down


8 - Uma música pra dormir: Ôoo - Marcelo Camelo 
9 - Uma música que te lembre sua família: One Love - Bob Marley
10 - Uma música com título complicado: You Probably Couldnt's see for the Lights But You Were Staring Straight At Me - Arctic Monkeys
11 - Uma música que lembra alguém que você ama: Cicatrizes Emocionais - Ladrões Engravatados
12 - Uma música que tenha sintetizador e você goste: Papapa - Mombojó
13 - Uma música que te lembre uma cor (especifique qual): Vermelho - Vanessa da Mata (adivinha!)
15 - Uma música que você gosta, mas a maioria das pessoas não: Duas Lágrimas - Fresno


14 - Uma música de protesto: Pela Paz - Cólera
16 - Uma música que te faz "viajar": Reinvento - Gram
17 - Uma música que te faz sentir leve: Contato Imediato - Arnaldo Antunes
18 - Uma música que faça referência a animais: E o Pintinho Piu
19 - Uma música que lembre o verão: Baianidade Nagô - Banda Mel
20 - Uma música que lembre a primavera: Primavera - Los Hermanos 
21 - Uma música grande: Faroeste Caboclo - Legião Urbana
22 - Uma música que você é viciada: Last Night - The Strokes
23 - Uma música que você ouviu ao vivo e gostou muito: Sinceramente - Cachorro Grande

sábado, 11 de fevereiro de 2012

O papel social do carnaval

Não é segredo pra ninguém que carnaval não é mesmo o meu forte, e até já escrevi sobre isso por aqui. Pois bem, esse ótimo texto traduz exatamente tudo o que essa festa 'alegre e colorida' representa. Posso fazer destas palavras as minhas - vírgula por vírgula. Confiram:

Por Francisco Gutemberg Viajeiro


   "O Carnaval é sem dúvidas a grande festa do Brasileiro. Ele se prepara o ano inteiro para este momento “mágico” de devaneio e volúpia total. A Festa da Carne, como também é conhecida, estabelece comportamentos, quebra limites, movimenta a sociedade de maneira única, a corromper  o que pode se entender por  virtude, no que conclama algum incêndio a diversas bandeiras moralistas que sobrevivem na contemporaneidade.
   Inicialmente imaginado como o instante de agradecimento aos deuses pela fertilidade da terra, a farra do carnaval logo ganhou ares de culto à pujança, à beleza, à bebida e ao sexo. Do Egito antigo (4 mil anos antes de Cristo ), quando se homenageava a deusa Ísis e se celebrava, ao redor de uma fogueira, um instante de confraternização entre as diversas classes sociais, o Carnaval chegou a Veneza, de onde se espalharia para todo o mundo, com as cores que marcariam, definitivamente, a sua história.  É na Veneza do Séc. XV que a festa tomou as características atuais, com suas alegorias, fantasias, máscaras, desfiles etc.
   Trazido de Portugal, via Ilha da Madeira e Cabo Verde, o Carnaval aporta em terras tupiniquins em 1641, trazendo na bagagem toda a alegria e irreverência típicas da festa. Mas é apenas no Rio de Janeiro de 1840 que ocorre o primeiro baile de salão. Já os primeiros clubes carnavalescos esperariam mais um século para surgirem. Na Bahia, diferentemente do Rio de Janeiro, ganhou força o carnaval de rua, dos afoxés (classe popular, pobres) e dos clubes (das elites). Contudo, a maior invenção do carnaval baiano estaria no aparecimento do Trio Elétrico de Dodô e Osmar, em 1950, algo que consagraria de vez o carnaval popular e de rua. 
   Para um melhor entendimento cronológico dos eventos relacionados ao carnaval da Bahia, poderíamos dividí-lo em 5 fases. A primeira refere-se ao seu nascimento, sua gênese, em finais  do séc. XIX, marcada pelo aparecimento dos primeiros afoxés; o segundo grande acontecimento, já na  década de 50 do século passado, é a invenção do trio elétrico (Dodô e Osmar); nos anos 70, vêm os blocos de corda, como os Novos baianos, Corujas, Jacú, Lords etc.; na década de 80 temos o aparecimento do fricote (Sarajane e Luiz Caldas), precursor do Axé music, ritmo “genuinamente baiano” (como passaria a ser lembrado) e considerada a maior de todas as inventividades musicais da boa terra até então.
   No caminho de uma possível compreensão de significados que carrega o carnaval da Bahia na atualidade, é importante nos determos na década de 80. Este é um momento histórico para o país, quando ocorrem diversos fatos sócio-politicos de magnitude suficiente para alterar, de forma bastante significativa, as relações de poder. É o momento da chamada “abertura politica”, da chegada e implementação de um novo modelo politico-econômico (neo-liberal) que, orquestrado nos EUA e Europa, estabeleceriam regras não apenas comerciais (quebra de barreiras alfandegárias), mas especialmente comportamentais, articuladas que são ao eterno projeto de manutenção do status quo, de quem domina e apadrinha, de quem com uma mão afaga enquanto a outra rapa.
   O Carnaval contemporâneo também é resultado de todo este processo de readaptação do Poder, travestido na vertente da festa, do grito inebriado, moldado numa formulação de imagens, de movimentos, cores, zumbidos, néons, tambores, confundidos com uma pretensa “cultura baiana”, que encantam os olhos e os frágeis ouvidos da massa, do homo festivitas, do homo consumus. O modelo operacional do projeto político-econômico necessita de variados recursos que o viabilizem, e, neste sentido, atrelado à idéia de formação do indivíduo (sua pacificação e confecção de opinião), o Carnaval, e todo o seu arcabouço sedutório, são ferramentas importantíssimas na preservação do sistema de Poder que interessa ao Capitalismo. 
   Autorizado pelo Estado e pelos veículos de comunicação, ou diria melhor, pelo mando das cinco famílias que detêm o poder da verdade no Brasil (Marinho, Frias, Macedo, Saad e Abravanel) a “Festa” foi concebida para atrair multidões de todos os lugares do Brasil (e do mundo), movimentando somas astronômicas que enriquecem empresários do ramo de cervejaria, hotelaria, agenciamento turístico, bem como alguns poucos escolhidos que atendem pelo singelo nome de “artistas” baianos (eleitos a cada ano por algum canal de TV, na figura de um seu qualquer expert em cultura e arte).
   Em nome da alegria, da tradição e, principalmente, do lucro, digo, do emprego, atestam os governantes que o Carnaval traz progresso e dividendos, no que se excluem, talvez por um lapso de memória, a informação de para onde segue o grosso destes dividendos. Progresso este inclusive bastante perceptível no aumento da renda dos empresários e do número de menores e indigentes catadores de latinha que enfeitam nossas ruas, ao lado dos belíssimos trios elétricos, a cada fevereiro.
   Rebelar-se contra a falsa unanimidade, insinuar uma pequena que seja insurreição a desfavor do Carnaval, é quase um sacrilégio, diriam os discursos de bolso. Se você não gosta da festa, cale-se, mude-se, sob pena de parecer louco ou pecador.  È como querer a aventura de dizer que a nossa imprensa não tem autoridade para afirmar nenhuma questão sócio-politica-econômica, porque bancada pelos que ganham com o flagelo da ignorância das massas, e ser imediatamente calado com um murro na boca dos que sustentam a máxima da “Liberdade de expressão” ou aquela  “Não vão calar a nossa voz, pois a imprensa é a voz do povo e ele não se cala.”. Ou seja, roubam a posição de vítima do desgraçado que lhe ensaie qualquer ameaça, colocando-o no seu devido lugar, no lugar do ostracismo e do ridículo.
   Uma festa que emburrece, enquanto imbecializa, arrasta a massa, literalmente, que atende à demanda e à hipnose, ao sorrateiro chamamento televisivo do jornalista estupidamente maquilado do Jornal do Meio Dia da TV Bahia, no caminho da turba enlouquecida, a qual se envolve de alma e corpo na dança frenética e ridícula, no agitar de braços, pernas e bundas, em manifestações que atendem à insanidade rítmica do trio elétrico, na agressão gratuita à sexualidade feminina. Assim é o carnaval da Bahia, um grande puteiro a céu aberto, legalizado, fedendo a mijo e ao mau hálito dos paulistinhas branquelinhos que todo fevereiro aqui vêm. E o que sobrar desta conta deve já ter sido investido na Bolsa de Valores de São Paulo ou quem sabe Nova Iorque, como resultado de lucros justos e honestos de quem acredita na alegria do povo e sua saúde mental.

Carnaval das Cinzas


- Quando: 03 de março, às 21h
- Onde: Bar da Cássia (Radial C - Camaçari)
- Quanto: R$7
- Bandas: Latrina, Mácula (Simões Filho), Rancor (Simões Filho/SSA), Agnósia (Simões Filho/ SSA), Dispor (SSA), Egrégora (SSA), Exclusos (Cruz das Almas)


segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

A mais deprimente

   Eis que resolveram eleger a canção mais deprimente de todos os tempos da última semana, e a escolhida foi Everybody Hurts, de R.E.M., coisa finamente melancólica. 


   Né, não é segredo pra ninguém que meu ponto fraco - ou forte - são as músicas deprimentes, introvertidas e de gente suicida. Tenho paixão. Por sinal, até fiz um post por aqui anteriormente falando sobre músicas tristes.
   Los Hermanos, Radiohead, Legião Urbana, Joy Division, The Smtihs, Cure, Marcelo Camelo, brincando de deus, Coldplay, Gram, Ultrasônica, e até algumas canções de Moptop servem como lindas trilhas sonoras para dias cinzas e chuvosos, momentos chorosos, cheios de lágrimas e pulsos cortados.
   Eu não sou David King (o produtor teatral britânico que elegeu a música de R.E.M.), mas, como fã de músicas tristes, me sinto com todo o direito de também escolher a canção que é a mais deprimente (no melhor sentido da palavra) da minha vida, àquela que embala minha alma nos momentos mais sentimentais e intensos: Sombras e Luzes, da declinium (dona de tantas outras músicas que competem acirradamente por esse 'título'). Tempos atrás, por sinal, já até falei por aqui que, se eu fosse uma música, queria ser ela.
   E por falta de um vídeo de Sombras e Luzes, se deliciem com o áudio, que vale muitíssimo a pena: http://www.melodybox.com.br/LoggedIn/MusicPlayer/Default.aspx?s=10080