Quando a gente lê um livro pelo qual nos apaixonamos e, posteriormente, ele é adaptado pro cinema, geralmente ficamos ansiosos para ver o resultado do filme, e não raro nos decepcionamos. Mas esse não foi o meu caso com Carne Trêmula, foi o caminho contrário, e sem decepção.
Foi por causa de Almodóvar que resolvi ver o filme, sobre o qual já discorri por aqui anteriormente. Não posso dizer exatamente que me apaixonei e nem que foi sua melhor produção, mas a trama me seduziu, e diferente da maioria das películas do diretor espanhol, Carne Trêmula não traz um tom leve nem por vezes cômico, é com um clima denso que ele nos apresenta a história de Victor, um tímido entregador de pizza que, mesmo inocente, fora condenado a prisão.
Andando pela Bienal do Livro 2011, me deparei com uma capa que trazia o título Carne Trêmula, o que logo me chamou a atenção, e em letras destacadas vi escrito 'O livro que deu origem ao filme de Almodóvar', não tive dúvida de que deveria comprá-lo, e assim fiz.
Ao ler as primeiras páginas da obra escrita por Ruth Rendell, esperava ver a mesma história do filme, imaginava que nada seria mais novo pra mim, e só me debruçaria sob sua leitura a fim de relembrar o conto. Mas, já no primeiro capítulo, minha expectativa foi quebrada, Victor não era um simples entregador de pizza e nem entrou no apartamento porque se encantara pela jovem proprietária. O Victor da literatura era um estuprador, que invadiu uma casa por ele desconhecida por motivos ainda não esclarecidos. É surpreendido por policiais, e as ações decorrentes mudarão a sua vida.
Após dez anos na prisão, Victor é solto por bom comportamento, e é sobre suas primeiras semanas em liberdade que as 275 páginas discorrem. Quando é reintegrado à sociedade, ele fica obcecado pela vida do policial que havia intervindo na invasão da propriedade anos atrás, e o sentimento que carrega por esse homem oscila intensa e freneticamente. A narração literária discorre sobre um jovem atormentado, impulsivo e um tanto desorientado, engolido pela solidão, pela ausência de laços fraternais e alheio ao mundo.
Rendell relata os fatos com cuidado, descrevendo com perfeição os ambientes, exibindo de forma minuciosa os acontecimentos, o que não me deixou desgrudar do livro. Quando o findei foi quase uma sensação de vazio, um apego aos personagens e uma impressão de que aquela história é viva.
No livro, assim como no filme de Almodóvar, Carne Trêmula é delicioso. Mas não se trata da mesma história, são sentimentos diferentes que elas despertam. Não reencontrei o Victor espanhol, mas conheci um outro, diferente, o Victor londrino.
Eu li também, Emile. É um bom livro mesmo, beeeeeem tenso e angustiante. Do filme eu não lembro direito. Agora que você descreveu a sinopse que relembrei o quanto ele é diferente do livro. Na minha cabeça as duas histórias estavam meio mescladas.
ResponderExcluirTem um filme com uma temática de certa forma similar à do livro (um ex-presidiário obcecado pelo advogado que o acusou): Cabo do Medo. Se ainda não viu, recomendo.
Beijo.