O que os saudosistas mais gostam de repetir por aí é que "antigamente as coisas não eram assim, era tudo muito melhor, nada mais será como antes, os valores estão se perdendo, pererê, caixinha de fósforo", e como geralmente eles carregam um discurso quase infalível, conseguem convencer todos quase todos de que, realmente, estamos declinando.
Compreendam, eu não tô querendo dizer aqui que o mundo tá mil maravilhas, que tudo mudou pra melhor e que, viva, estamos numa sociedade sem problema nenhum. Eu não surtei. Eu gosto de músicas e filmes de décadas passadas, moda vintage (ahh, os chapéus!), coisa e tal, mas não sejamos hipócritas, não vamos lançar mão do novo e fechar os olhos pra todas as inovações.
Por isso o Insano Mundo Estranho fará uma série de postagens despretensiosas para discorrer sobre cada um dos clássicos dizerem retrógrados.
"Antigamente a família era o centro de tudo... os valores familiares estão se perdendo, não há mais moral, estamos perdidos!"
Essa é uma das mais recorrentes frases ditas por aí. Mas vejamos, os valores mudam, se transformam, e isso não quer dizer que tudo está acabado. Vivemos numa sociedade que começa a compreender que 'família' tem significado plural, e não quer dizer somente que é um grupo formado por pessoas que têm parentesco e carregam 'o mesmo sangue', mas sim, que é um núcleo de pessoas que convivem, partilham e se gostam.
A desmistificação do casal padrão heterossexual abre espaço para compreensão da possibilidade de entidades familiares geridas por um casal de duas mulheres ou dois homens. A emancipação das mulheres possibilita também que elas possam morar sozinhas, tenham o poder de decidir se querem casar, ter filhos ou quantos filhos terão. Além disso, as novas famílias se tornam amplas, fundamentadas na soma, desde filhos de outro casamento, até um grupo de amigos que moram juntos.
O casamento eterno é ainda muito idealizado e admirável, mas o divórcio possibilita o desenlace de pessoas que não mais se amam, não mais são felizes juntas e têm o direito de prosseguirem suas vidas, sem a necessidade de morais sociais ou contrato as obrigando serem infelizes. Além disso, desmistificar tradições familiares que muitas vezes limitavam os filhos a seguirem os mesmos passos dos pais, abre portas pra individualidade, para a escolha, sonhos e realizações.
Não é que a família tradicional acabou - até porque ela ainda representa a maior parcela na sociedade - e muito menos que ela vai ou deve acabar, mas sim perceber que pode haver novas formas de famílias, que têm seus valores e morais, não significando que são entidades amorais a parte da sociedade.