Os olhos azuis brilhantes de
Michael, menino novo que chegou ao bairro, esconde mais do que sua aparencia
revela. Com uma tesoura, sua irmã Jeanne o ajuda a deixar os cabelos louros
curtos, com o resto dos fios cortados, as crianças colocam no rosto e fantasiam
usar um bigode. Para a pequena Jeanne, é apenas uma brincadeira, mas para
Michael, uma farsa que ele leva a sério. Michael na verdade é Laure, uma menina
de 10 anos que se traveste como o sexo oposto, e assim consegue conquistar a
amizade das crianças do bairro e a paixão de Lisa, menina que ela conhece na vizinhança.
Na língua inglesa, a palavra
Tomboy designa uma menina que tem comportamento masculinizado, e no filme
francês de mesmo nome, lançado em 2011, a diretora Céline Sciamma consegue
conduzir com leveza e de forma delicada o tema polêmico. A própria apresentação
da família de Laure indica que a diretora optou por tratar o assunto sem cair
em clichês e apontar culpados pelo comportamento dela. A garota mantém uma
ótima relação com a irmã e os pais parecem aceitar com tranquilidade os gostos
peculiares da menina.
Quando a farsa é descoberta por
Jeanne, que adora se vestir de rosa e dançar balé, ela consegue encarar a
situação de forma despreocupada, afirmando até preferir possuir um irmão mais
velho que uma irmã, porque ele poderia a defender das outras crianças. Jeanne
não julga a irmã e apoia suas atitudes, pois, como uma pequena menina de cinco
anos, ainda se desprende de preconceitos e padrões sociais.
Os poucos cenários, reduzidos à
casa de Laure, a um campinho de futebol, e a um bosque, ajudam a construir o
intimismo e focar a atenção do telespectador no drama vivido pela personagem,
assim como o roteiro direto e simples. Mas
o maior destaque é para as atuações mirins, que interpretam com competência os
personagens complexos, dando o tom inocente da infância à história forte que
Tomboy apresenta.
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