quinta-feira, 29 de março de 2012

Infinito

Cada hora que se arrasta
Tudo parece cada vez mais distante,
E aos poucos se afasta
Aquilo que me roubava sorrisos.
Um retrato amarelado
Como os dentes escancarados sem motivos
Por que queres ir tão longe?
Sem saber que tão perto há infinito,
Em nossa paz.
Céu não há,
O universo é aqui

terça-feira, 20 de março de 2012

Um papo sobre o Grito Rock 2012

Sofisticação e experimentação marcaram apresentação da mineira Paquiderme Escarlate

 Dando fim a maresia inerente aos domingos, o Grito Rock agitou a cena rock de Camaçari nesse último dia 18. As responsáveis por isso foram a Ladrões Engravatados, The Pivo's, declinium, Paquiderme Escarlate, Pietros, Pã e MetalWar,  bandas que se apresentaram no Espaço Barramas.
   Foi com post punk da declinium que começou a segunda edição camaçariense do evento que acontece em toda a América Latina. A banda, ícone do rock da cidade, embalou canções velhas conhecidas dos frequentadores da cena alternativa local, como Fenix, Calor e Sem Destino, acompanhadas pelo público.
   O punk nervoso e ensolarado da The Pivo's pode ter sido o ponto alto do Grito Rock. Sempre enérgico, o power trio também entoou músicas acompanhadas pela galera, e aproveitaram pra divulgar três novas canções da banda.
   Já os cariocas da Pietros, apresentaram um pop rock bem feito, com o típico estilo que vem ganhando espaço na música nacional (e particularmente a baiana), com baladas teens românticas, lembrando bandas como a soteropolitana Maglore.
   Diretamente da capital baiana, Pã bebe de várias influências para mostrar um som 'sujo e pesado', como denominado pela própria banda, mas, sobretudo, direto e certeiro.
   MetalWar, grupo feirense de heavy metal, agitou o público, fazendo um som competente e enérgico, com influências de bandas ícones do gênero, como Iron Maiden e Judas Priest.
   A sexta da noite foi a Ladrões Engravatados, que voltava aos palcos com nova formação e esbanjado boa forma. Clássicos como O Tempo Não Para, de Cazuza, e Pólvora, d'Os Paralamas do Sucesso, foram executadas com eficiência, assim como as autorais Pega Ladrão, Cicatrizes Emocionais e Folhetim.
   Foi a Paquiderme Escarlate que findou o evento. Com maestria, a banda mineira balançou o público, fazendo um som sofisticado e cheio de personalidade e experimentação, incluindo instrumentos como o teclado e saxofone e afirmando-se como um dos destaques do Grito Rock 2012.
   E então, que venha o próximo! 

sexta-feira, 9 de março de 2012

Grito Rock'12 Camaçari


- Quando: 18 de março, às 14h
- Onde: Espaço Barramas (Gleba C - Camaçari)
- Quanto: R$5 + 1kg de alimento não perecível (ponto de troca: New Look Surf Wear - na Praça Abrantes ou no Barramas no dia do evento)
- Bandas: Ladrões Engravatados, declinium The Pivos, Pã (SSA), MetalWar (FSA), Paquiderme Escarlate (BH), Pietros (RJ), Filla (SP)



Realização: Capivara Coletivo Cultural + Eduardo e Mônica Designer

segunda-feira, 5 de março de 2012

Desconstruindo: a música morreu

   Pra prosseguir a série fajuta de posts sobre os dizeres retrógrados, eis que agora vamos falar de um tema que vocês estão cansados de ver aqui no Insano Mundo Estranho: música.
   Mas o que tem de retrógrado na música? Perguntarão alguns. E explico: andam dizendo por aí que "O rock morreu, a música morreu, tudo está perdido, é 2012!". Tá, é sim 2012, mas a música não morreu, o que pode ter morrido foi a memória de algumas pessoas que esqueceram que nos anos de 1990 Faustão fazia concurso da nova loira do Tchan e de que nos anos 80 todos dançavam ao som de Menudos. Não é que hoje não há música ruim (taí Paula Fernandes pra não me deixar mentir), mas o que quero dizer é que existiram artistas bons e ruins em todas as épocas. Admiro muitos artistas do passado, mas não devemos deixar de conhecer e reconhecer nossos bons frutos contemporâneos. 
   A maioria das pessoas que falam que a música morreu, primeiro, não viveu a época sobre a qual ele se refere que tenha sido o primor de produção cultural, e também costuma não se dá ao trabalho de procurar bons novos artistas, tarefa que não é simplória, admito, mas que está muito menos complicado graças a internet.
   Por sinal, música pela internet é pauta de outro dizer retrógrado. "Agora é muito fácil ser fã, é só procurar no youtube. Não se faz mais fãs como antigamente". Mas o que é ser fã? É saber a biografia de um artista ou é gostar de sua obra? Claro que conhecer uma discografia maior de uma banda dá mais consistência para suas referências musicais, mais é errado dizer que gosta de uma música só porque a  ouviu na internet?
   A facilidade do meio digital democratiza (mesmo que de forma parcial) a cultura e a informação e não deve ser condenada. Se podemos hoje, através da rede, ouvir uma canção e nos identificar com ela, isso deve ser louvado, sem contar a possibilidade de buscar material desses artistas de maneira muito mais rápida.
   Não devemos deixar de considerar que buscar conhecimento musical - da banda que você curte, do artista que você prestigia - é bom, até mesmo pra não ser inconsistente. Mas as graças do meio digital e suas facilidades não devem ser desconsideradas, e sim somadas. Assim como, procurar conhecer novos artistas te fará reconhecer que a música não morreu, muito pelo contrário, está completamente viva!

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Curto e grosso: Sobre Fale Com Ela e Capitães de Areia

   Quem costuma brilhar nos filmes de Almodovar são as mulheres. Em Fale Com Ela, obra lançada em 2002, as damas são indispensáveis na sustentação da trama, mas são os homens que se destacam, sendo estes o enfermeiro Benigno e o escritor Marco. Os dois se conhecem num hospital,  onde ambos assumem a tarefa de cuidar de suas amadas que se encontram em coma. Porém, enquanto o coma de Lydia, uma toureira cuja personalidade oscila entre frágil ao bem decidida, é uma situação extremamente confusa para Marco, Benigno alimenta por Alicia, mesmo com ela em estado vegetativo, uma relação extremamente afetuosa, chegando até mesmo ao doentio. Fale Com Ela é a típica película almodovariana: personagens fortes, flash back, linda fotografia, ótimas atuações, roteiro bem desenvolvido e história interessante. Pode se destacar ainda a trilha sonora, que conta com uma canção lindamente interpretada por Caetano Veloso.

   Cecília Amado, ao adaptar a obra do avô, Capitães de Areia, criou um filme que divide-se entre o belo e o inconsistente. Pedro Bala representa a figura do líder, um garoto que comanda o bando dos meninos de rua, formado também por Gato, Grande, Pirulito, Boa Vida, Volta Seca, Professor e Sem Pernas, famosos pelos pequenos delitos que cometem. Mas com a chegada de Dora ao trapiche, menina órfã que se vê obrigada a morar na rua e cuidar do irmão caçula, o enredo parece assumir outro rumo, fazendo com que as histórias dos Capitães percam força para o romance entre a menina e Pedro Bala. A película encanta pela direção de arte, que ambienta a trama a meados do século XX com competência, pela fotografia exuberante e pela encantadora trilha sonora assinada por Carlinhos Brown e que conta ainda com canção de Arnaldo Antunes. Mas Capitães de Areia erra pelo roteiro mal construído, que acaba por deixar as histórias soltas e mal desenvolvidas.

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Almodovar

Entre as cores
Não há temores
É lugar do riso escancarado
Do amor desmedido
Do sangue derramado
Da lágrima caída
Entre as cores
Há espaço para o desespero
Homens de salto alto
Mulheres de batom vermelho
Entre os dedos
Escorrem os segredos
Dissabores não apagam paixões
Sorrisos estão presos em lágrimas
Entre as cores
De arma em punho
E sem destino

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Das declarações à redenção

   Quando Marcelo Camelo resolveu seguir carreira solo, não foram poucas as críticas, baseadas, sobretudo, no argumento 'Los Hermanos era melhor'. Não é que eu discorde, mas, como já disse por aqui, esse é o tipo de comparação que dispenso, principalmente porque Camelo trouxe uma nova proposta, que, mesmo influenciada pelo quarteto (o que é inevitável), tem uma identidade particular. Mas não entenderam isso quando ele lançou o 'Sou'.
   'Toque Dela' (2011) talvez tenha vindo como 'a redenção'. 'Pulsante e ensolarado' foram as palavras usadas pelo próprio artista para descrever o novo album, que não dispensa o sentimentalismo e intimismo que Marcelo já havia impresso no primeiro disco, mas que veio com muito mais coesão e consistência. Essa mudança já pode ser percebida pela estética, com cores vivas e tom festivo, contrapondo-se aos tons pastéis e sóbrio do 'Sou'.
   Das dez faixas, destaque a Ô, ô, Acostumar, Vermelho, Pretinha e A Noite, que mergulham num tom de alegria e romantismo. Sim, Toque Dela é puro romance e feito 'pra ela', é uma obra inspirada na amada, Mallu Magalhães.
   
   E se a inspiração 'dela' fez bem pra Camelo, a influência do hermano, aliada ao amadurecimento inerente, fez bem mais ainda pra Mallu, e de forma até mais visível. 
   Os seus dois CD's homônimos, o primeiro lançado em 2008 e o segundo em 2009, foram os que projetaram a jovem no mundo da música, mas, pela pouca idade, era notório, Mallu ainda precisava 'se encontrar'. Apesar de ter se tornado conhecida, as músicas em inglês mais eram alvos de críticas do que elogios.
   E foi com Pitanga (2011) que a garota mostrou que, sim, sabe fazer música, e de muita qualidade. A identidade dela está ali, mas muito mais amadurecida e primorosa. Além de bem arranjado, Pitanga vem com letras mais trabalhadas (e majoritariamente em português) e com um vocal mais seguro. 
   São com 12 faixas que Mallu Magalhães conseguiu arrancar elogios. E Olha Só Moreno, Sambinha Bom, Ô Ana e Cais são as provas de que a influência de Camelo só fez bem a moça. Como tantos dizem por aí, Pitanga veio pra mostrar que 'a menina virou mulher'.