Dirigido por Dziga Vertov em 1929, Um Homem Com Uma Câmera é um filme-documentário russo com duração de 68 minutos. Através de imagens pretas e brancas, o cineasta documenta cenas urbanas, retratando o cotidiano na sociedade soviética da época, sobretudo de Moscou. A obra é considerada um marco na história do cinema pelo uso de planos elaborados, estrutura complexa da narrativa e caráter poético.
Precursor do cinema direto e do cinema verdade, Dziga Vertov fez parte do movimento construtivista, é um dos primeiros cineastas russos a usar a técnica de animação e desenvolver alguns princípios fundamentais da montagem no cinema. O movimento soviético entendia o filme como um 'jogo de encaixe', logo, a montagem era fundamental para a construção da idéia, era a estrutura que 'costurava' a produção cinematográfica.
Nona obra de Vertov, Um Homem Com Uma Câmera utiliza efeitos ainda atuais, como o stop motion, planos ousados para a época, mostrando a perspectiva do olhar da câmera e criando novos conceitos na captação da realidade. A sétima arte no filme é autônoma e desprende-se do conceito do roteiro linear, contrapondo-se às obras literárias e teatrais, portanto, afirmando-se como uma nova arte. A característica principal do documentário é a coletânea de flagrantes de rua, rostos, fábricas, do dia-a-dia daquela época.
Uma mostra clara do urbanismo que surgia, da década da mecanização, do novo estilo de vida que estava nascendo. Uma tentativa de aproximar a ação da filmagem com uma ação mecânica, comparando-a a outras atividades mercantis, como a produção nas fábricas, uma crítica ao cinema como indústria.
Um Homem Com Uma Câmera é uma obra metalinguística, pretendendo mostrar na tela a arte do cinema, a ação da filmagem, a técnica crua da arte. Carrega traços dadaístas e surrealistas e faz da captação da imagem a sua mais pura produção. Sendo um pioneiro em linguagem e estética, o cinema de Vertov é ambicioso, sem a necessidade de uma ação narrativa desenhada, uma seqüência lógica, drama ou conflito.
Apresenta-nos um cinema independente à dramaturgia, uma mostra artística, na configuração poética da realidade. O 'olho-câmera', ou câmera subjetiva, literalmente, nos tira da mesmice, nos faz ver o mundo, as coisas e os seres de um novo prisma, uma verdadeira sinfonia de imagens. A trilha do documentário, por sua vez, tem o papel de nos guiar, definindo a velocidade, o clímax e as características primordiais do filme. O acompanhamento musical é inerente à obra, sendo responsável pela fluidez e o dinamismo da mesma.