Era manhã de segunda feira, 13 de dezembro de 2010; e como toda as manhãs, lia o jornal A Tarde; e como todas as minhas leituras de jornais, era com aquele mesmo olhar desatento, despreocupado, cansado. Mas a página A8, sessão 'Salvador e Região Metropolitana', estampava uma matéria de título "Empresa recusa a divulgação de campanha publicitária pró-ateísmo", a baixo do título estava dois cartazes que seriam divulgados pela Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos (ATEA), o assunto me chamou a atenção.
Não é um título espantoso, ora, seria muita ingenuidade achar que uma propaganda atéia passaria assim, sem nenhum filho-de-deus pra discordar. A Fast Mídia, que comercializa os espaços nos ônibus da cidade, barrou a campanha. O gerente da empresa pronunciou-se dizendo que não iria veicular, pois no seu entender a propaganda contém ofensa religiosa. Claro, uma campanha contra o preconceito é ofensa religiosa, um sensacionalista jornalista ir à TV dizer que os ateus devem morrer é super normal.
Também não é espantoso que um monte de gente ache o posicionamento da Fast Mídia louvável, há quem diga que se sentiria ofendido caso a campanha não fosse barrada. Vamos então entender uma coisa: propagar o 'não preconceito' virou motivo de ofensa, Ok. Mas se a missa católica é veiculada por uma TV estatal, aí não, não tem problema nenhum, mesmo que essa mesma TV não dê espaço para exibição de manifestações de outras religiões.
No outro dia, na página de 'Opinião', dois leitores do A Tarde se pronunciaram sobre o caso. Franklin de Souza contou que ficou indignado quando leu a reportagem, sobretudo porque não entendeu o motivo das peças serem barradas, já que a ATEA não cita nenhuma religião especifica, "a campanha da Atea pretende apenas alertar os brasileiro que não crer em deuses é uma opção que nos dá a Constituição, e não ser discriminado por isso é um direito". Achel Tinoco também se manifestou "a vida só é possível e plena para aqueles que 'aceitam jesus'... Para os ateus, portanto, ou mais alguém que ouse pensar um pouco além, não se deve mostrar a cara... Está bem: arranquemos os autdoors das ruas. Isto, sim, é democracia!".
Espantoso foi ver a mensagem dos dois leitores no jornal, ou melhor, surpreendente. Mas constato que os rapazes pertencem a uma minoria. Indignante é ver que poucos ousaram reivindicar, os crentes preferiram achar que o problema não é com eles. Quando a questão não nos atinge diretamente preferimos nos calar, ausentar-nos de responsabilidade. Será que é só aos ateus que cabe indignar-se com esse embargo e reivindicar pela democracia?
O preconceito com os ateus é gigante. Um professor meu sempre citava a disputa pelo governo (ou prefeitura, não lembro) de SP em que disputavam FHC e Jânio Quadros, e em que o primeiro perdeu qualquer chance na disputa quando vacilou na resposta sobre acreditar ou não em deus.
ResponderExcluirSe não me engano, também foram proibidas campanhas assim na Europa. Tudo igualzinho, com a fast mídia também (aprendi agora que se chama fast mídia... hehe).
Confesso que eu mesma preciso aprender a reivindicar melhor o respeito à minha condição de ateia-agnóstica-seilaoquê. Acabo vacilando frente à resistência alheia, já que ela é tão forte...
Enfim, minha vida religiosa à parte... haha o certo é que precisa havar respeito. Mas, infelizmente, eu não vejo ainda nada de muito promissor pros ateus, porque a intolerância é tão, mas tão gigante que não nos dá tantas esperanças de que a situação se reverta por agora...
POis é, não faz muito tempo que anúncios desse tipo foram banidos de ônibus na Europa. Na faculdade, por exemplo, onde a todo momento os professores testavam nossa capacidade de compreensão e distanciamento das coisas, tinha sempre o grupo dos "alinhados" que achava tudo um absurdo. Existem vários publicitários e fotógrafos odiados no mercado por conseguirem lidar com tudo isso de forma criativa e bem humorada. É um debate bastante complicado, não deveria, mas é.
ResponderExcluirConfesso que, muitas vezes, quando sou abordada por um religioso, nem me atrevo a dizer que sou atéia porque já imagino o sermão que irá me tirar do sério, me levar à discussão e talvez até, estragar o meu dia. Mas não acho certo o que faço, me abstenho pra não irritar o outro em sua crença quando, na verdade, eu é que estou sendo ofendida.
Também não acredito que isso vá mudar.
"eu não vejo ainda nada de muito promissor pros ateus"
ResponderExcluir"Também não acredito que isso vá mudar."
Grande e lamentável verdade, meninas.
Beijos