sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Chapada Diamantina para sedentários

O PLANO
Quinta-feira, 7 de janeiro de 2016, feriado municipal. Estávamos todos na praia quando sugeriram: "vamos pra Chapada no carnaval?". Fui a mais rápida do grupo a responder: vamos!
Meu entusiasmo era porque em meus, até então, 22 anos eu nunca havia ido a Chapada Diamantina, paraíso baiano aqui pertinho, e as tentativas de ir rolavam desde a infância. Nunca dava certo. Foram várias programações de ir na Chapada que acabavam por água abaixo. A última, que seria no dia 2 de novembro, foi bastante pensada. Pesquisa de pousadas, passagens e tal, mas no fim, acabou não rolando. Então essa era a oportunidade! E assim foi. E como dizem que tudo tem seu tempo, essa foi o momento perfeito para enfim conhecer a Chapada Diamantina.
Como programado, iria toda a galera, mas aos poucos um foi esfriando, outro tinha compromisso na data, outro não tinha dinheiro, etc. Mas eu estava certa de que dessa vez eu não deixaria de ir. E fomos, apenas eu e Junin.
Já que ficamos esperando a confirmação de todo mundo pra poder acertar a hospedagem, tivemos que procurar pousada de última hora. E procurar local pra ficar, dois dias antes da data da viagem e em período de carnaval é uma tarefa bem difícil. Quase todas as pousadas estavam lotadas, quando não, não eram nada baratas ou então não atendiam as nossas necessidades. Por fim, já exausta, acabamos por achar o lugarzin pra ficar que, apesar de não oferecer todo o conforto do mundo, estava num preço massa.

A IDA
Sábado, 6 de fevereiro, as malas já tinham sido arrumadas um dia antes, acordamos cedo pra partir pra estrada logo, mas terminamos saindo de Camaçari já por volta de 10h30. Tudo bem. Seguimos viagem tranquila, ouvindo podcast do Pelada na Net no som do carro. Paramos em Feira de Santana, (finalmente) tomamos café, descansamos e continuamos para o destino.
No caminho centenas de borboletas amarelinhas se chocavam contra o para-brisa :( a fome apertava horrores, a cabeça doía bastante. Resolvemos tirar o podcast e ouvir música mesmo. E então, umas 15h30 chegamos enfim a Lençois. Aleluia irmãos.
Estava destruída de cansada, com fome e com dor. Peguei logo a chave do quarto, joguei as coisas pra dentro e disse: "preciso comer pelo amor de deeeeeeeus". Almoçamos em um restaurantezinho perto da hospedaria mesmo, demos uma volta tímida pelo Centro Histórico, mas eu necessitava de um banho, analgésico e cama, pufavozinho, nunca te pedi nada. 
Peguei no sono e ao acordar, glória, a dor havia passado. Então arrumei as coisas no quarto e fomos nos arrumar pra conhecer a noite de Lençois.
Primeiramente, ei de confessar que esperava alguma atração cultural, bandinhas e tal. Mas foi só um cara sentado em um banquinho com um violão, uma voz bastante rouca estranha (migo, pare de cantar) e um repertório de barzinho. Tudo bem, foi animado. Acompanhado de uma cerveja e uma skol beats, depois ainda rolou beiju (amo).
Chagada a Lençois

DIA 1
Bom, já no domingo, primeiro dia para aproveitarmos o passeio na Chapada, escolhemos por começar pela Pratinha. Colocamos no GPS, não havia erro. O caminho era meio estranho, passava por dentro de umas fazendas de café, mas chegamos firmes e fortes. Ao descer, percebemos que o local estava recém alagado. Tudo cheio de lama, os bares não funcionavam, o rio tava escuro e não era aconselhado o banho. Subimos e fomos tomar banho na parte de mergulho, água bem gelada e cristalino. Depois tomei coragem e desci de tirolesa. Pulei e vi aquela altura toda, fechei os olhos e aí foi só o tibum na água.
Seguimos estrada de volta, pensando em chegar a Mucugezinho, mas no meio do caminho vimos na placa a entrada da Caverna Torrinha, a mais completa do Brasil rs. Então simbora conhecer. Mas começou pela indecisão de qual percurso fazer. Depois de um tempinho, enfim decididos, fomos almoçar antes de descer. Ao término, chegou a hora de entrar na caverna.
Capacete na cabeça, lanterna na mão, agora era andar e andar, com a guia, é claro. Sob as pedras, tudo escuro, estreito, caminho sinuoso. Ufa. Quase uma hora na caverna. Valeu muito pela experiência de conhecer.
Caverna Torrinha
Retornamos para a entrada em direção, enfim, a Mucugezinho. Lá, já cansados, resolvemos ficar apenas na tranquilidade. Cervejinha, solzinho de leve, sentadinhos na mesa, banhin de rio, mergulho na cachoeira. Maravilha! Ao voltar para Lençois só tivemos força pra tomar banho, comer e nos jogar na cama de sono.
Mucugezinho

DIA 2
Segundo dia de aventura, resolvemos nos arriscar mais. Percurso mais longo, rumo ao Poço Azul, em Nova Redenção. O caminho na estrada foi até tranquilo, na estrada de chão estávamos meio desnorteados, quase nos perdemos, mas uma boa alma nos ajudou. Chegando ao poço, fomos avisados que a água não estava azul: "querem dar uma olhada pra ver como tá e avaliar se vale a pena pagar pra entrar?", "não moço. vamo assim mesmo". E, gzuz, valeu muito a pena. Exceto pelo medo de saber que estava dentro da água que tinha nãoseiquantosquantosmuitos metros de profundidade. Mas foi maravilhoso.
Poço Azul
Hora de sair, pegamos a balsa rumo ao Poço Encantada, em Itaetê. Atravessado o rio, era a hora da estrada de chão, e olha, muito chão! Fazenda de todos os lados, os boizinhos passeando pra lá e pra cá, já achávamos que estávamos totalmente perdidos. Mas depois de um bom tempo chegamos ao 'antigo asfalto' que nos avisaram para 'pegarmos a direita'. Porém, a decepção foi que essa estrada era muito pior. E então, andando na lentidão, nessa peregrinação, chegamos ao tal Poço Encantado.
Caminho Poço Azul - Poço Encantado
Logo que chegamos fomos avisados que tinham dois grupos ainda na nossa frente, e demoraria mais de uma hora. Tivemos que esperar. Espera amenizada por umas cervejinhas, uns ubus e sorvete. Após todo o aguardo, chegou a hora de conhecer o poço: capacete na cabeça, descemos em grupo com o guia. Vários degraus abaixo, após a entrada, mais uma trilhazinha, e tharam... chegamos! Olhamos o poço meio de longe, não pode chegar perto, nem sonhar entrar. A água estava escura, tinha pouca iluminação... Pronto, uns minutinhos alí, era hora de voltar. E que volta! Subir aquelas escadas foi um sacrilégio. Sedentários que somos, parávamos a todo momento, descansávamos, nem dava pra recuperar o fôlego, mas continuávamos a subir. O coração doía, parecia que ia sair pela boca, parecia que ia parar a qualquer instante... uma labuta! Depois de tanta amargura, chegamos ao topo, ufa! Mas tinha que ficar uns 10 minutinhos bem paradinho para descansar. A fome apertava, mas preferimos voltar logo para Lençois.
Poço Encantado
O caminho de volta foi revigorante. Paisagens magníficas... Lugares incríveis... Passamos por algumas cidades (não sei quais rs), paramos na Toca do Morcego, em Andaraí, tiramos algumas fotos, olhamos a vista linda, mas continuamos a viajem. E um tempo depois lá estávamos nós em Lençois.
Volta do Poço Encantado

Toca do Morcego
Já na pousada, banho tomado, fomos ao supermercado comprar algumas coisinhas pra comer: lasanha de microondas, ketchup, refrigerante, e só. Voltamos a hospedagem, preparamos tudo, e já alimentados fomos curtir a noite da city. Fomos tomar umas cervejas em um bar, o alcool batia e a conversa fluía solta. Mas o sono era grande e resolvemos ir pra casa. Porém, eis que no meio do caminho encontramos uma banda de sopro e percussiva, tocando músicas diversas, desde o pagodão baiano até a mpb, passando pelo funk, pop, reggae e tudo mais. Era contagiante. Um grande grupo, formado principalmente por turistas, rodeava a banda e não parava de dançar. A animação era grande, resolvemos ficar por alí, compramos mais cervejas, a banda resolveu andar pelas ruas do Centro Histórico e a multidão acompanhava festiva, como um bloco de carnaval. Muita folia, e depois de tanta festas, fomos então pra pousada. Hora de dormir.
Noite em Lençois

DIA 3
No terceiro dia, acordamos bem tarde. Saímos quase 11h já planejando ir pra um lugar bem calmo que exija pouco esforço físico, tendo em vista a experiência desgastante do dia anterior. Fomos de novo a Mucugezinho. Chegamos e ficamos no rio de boa, tranquilamente. Mas decidimos nos arriscar e seguir a trilha rumo ao Poço do Diabo. Caminho um tanto tranquilo, grazadeus, chegamos ao topo da cachoeira. De lá, a galera descia em tirolesa, mas a altura era grande e a coragem pouca. Após admirar um pouco a paisagem, Junin resolveu descer na tirolesa, e eu preferi descer de pé. O sol era intenso, mais um pouco de esforço, mochila nas costas, cheguei no rio. Maravilhoso. Só não dava para chegar próximo a queda d'água, pois era bastante forte. But, mesmo assim, valeu muito a pena. 
O cansaço e a fome batia. Era hora de voltar, subir a trilha e retornar a Mucugezinho. Já com o corpo esgotado, a volta foi difícil, estava me sentindo fraca. E após algum tempo, glória deus, chegamos ao destino e fomos comer. Em seguida, já era hora de seguir pra Lençois. Última noite de viajem, resolvemos ficar pela pousada mesmo e dormir cedo.
Poço do Diabo

A VOLTA
No outro dia, foi só tomar banho, tomar café, arrumar as malas e pegar a estrada. Chegado a Feira de Santana, paramos pra almoçar uma comida bacana, tomar outro banho, conversar um pouco, tomar açaí, e retornar o caminho de volta. E então, cerca de 18h30 chegamos a Camaçari. Findada a viajem, ficaram as boas recordações, a certeza de que valeu a pena, a sensação de que não aproveitamos todas as opções e os planos de retornar outras diversas vezes a Chapada Diamantina.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Sobre maternidade e patriarcalismo

Nós nos posicionamos diariamente pelo empoderamento feminino, mas sabemos o quanto a desigualdade de gênero ainda é radicalmente presente em nossa sociedade. O machismo é diário, seja nos julgamentos e comentário torpes , assédios naturalizados, cultura do estupro, feminicídio, etc etc etc. Lista infindável do que temos que enfrentar.
Mesmo sabendo que temos uma sociedade tão patriarcal, uma coisa (infelizmente) corriqueira me chocou dia desses. Discutimos sempre a imposição e romantização da maternidade, falamos sempre sobre o abandono paterno. Mas as vezes coisas corriqueiras nos chocam quando vemos assim de perto, e quando não conseguimos falar ou fazer nada para mudar alguma coisinha na situação.
Estava com um casal, pais de uma criança que tinha cerca de um ano e meio. A mãe dava comida sempre, dava banho  todas as vezes, trocava a fralda, vestia, penteava os cabelos, acalentava de madrugada (ou durante o dia). O pai assistia de longe, brincava um pouco, só. Em outra situação, esse pai passou vários dias em outra cidade a lazer, enquanto a mãe tinha que trabalhar e cuidar da criança.
Não sei da vida de ninguém e talvez não deva fazer julgamento. Mas foi inevitável: me indignei. E me indignei como isso foi naturalizado pelas outras pessoas que estavam presentes. Tudo parecia muito comum, porque, como já disse, isso é corriqueiro.
Comecei a lembrar das pessoas próximas, amigos(as) ou colegas que têm filhos, e percebi o quanto muitos pais se posicionam da mesma maneira, ou até de forma pior, ou quando agem melhor ganham carteirinha de super-pais. É um padrão quase unânime: para as mães cabe as obrigações e o peso da maternidade. Ao não assumir esse papel (papel esse que é de abrir mão de sua própria vida), a mulher é chamada de irresponsável ou coisa pior. Aos pais, os mais presentes são parabenizados, valorizados. A displicência é perdoada, despercebida. O abandono é pouco julgado.
É necessário quebrar esse paradigma. Compartilhamento das obrigações é imprescindível. Responsabilidade é igual para ambos, o  filho é dos dois. Os mais próximos sabem o quanto sonho em ser mãe. Mas isso não deve ser um fardo, e não deixarei que seja. Tampouco uma tarefa unilateral. Da próxima vez não deverei ficar calada. Vamos empoderar nossas irmãs. Vamos enfrentar e resistir porque, como diz a música, somos flortaleza.