Ler faz muito mal às pessoas: acorda os homens para realidade impossível, tornando-os incapazes de suportar o mundo insosso e ordinário em que vivem... Desloca o homem do humilde lugar que lhe fora destinado no corpo social... A leitura liberta o homem excessivamente.
A criança que lê pode se tornar um adulto perigoso, inconformado com os problemas do mundo, induzido a crer que tudo pode ser de outra forma.
Pai, não leiam para seus filhos, pode levá-los a desenvolver esse gosto pela aventura e pela descoberta que fez do homem um animal diferente.
Ler pode gerar a invenção, o conhecimento, mas para que conhecer se, na maior parte dos casos, o que necessita é apenas executar ordens?
Os livros estimulam o sonho, a imaginação, a fantasia... Nos fazem acreditar que a vida é mais do que um punhado de pó em movimento, nos faz enxergar mais horizontes, estrelas por entre as nuvens... É preciso desconfiar desse pendor para o absurdo que nos impede de aceitar nossas realidades cruas.
Ler pode gerar seres humanos conscientes demais dos seus direitos políticos... O que é mais subversivo do que a leitura?
Ler para se enriquecer culturalmente ou para se divertir deve ser privilégio concedido apenas a alguns, jamais àqueles que desenvolvem trabalhos práticos ou manuais... A leitura é um poder, e o poder é para poucos.
A leitura é obscena. Expões o íntimo, torna coletivo o individual e público, o secreto, o próprio.
Ler pode tornar o homem perigosamente humano.
Trechos do texto 'Ler devia ser proibido' de Guiomar de Grammont